segunda-feira, 27 de junho de 2016

Totalmente sem saída


Sou Carlos. Logo que nasci, minha mãe teve depressão, e nunca mais se recuperou. Pouco tempo depois, meu pai foi embora. Passei a infância no limiar da pobreza, dependendo da caridade da família de minha mãe. Morávamos de favor, comíamos de favor, só usávamos roupas doadas, quase nenhum brinquedo.Era muito triste por meu pai ter ido embora, por minha mãe ter uma doença psiquiátrica séria e por não termos dinheiro para nada. Ficava ainda mais triste de ver pessoas próximas em situação muito melhor, e não entendia que mal eu tinha feito para sofrer punição tão severa. Um pouco mais velho, fiquei ainda mais triste por não ter amigos. Depois, por não ter amigos nem namorada. Tomei veneno uma vez aos treze anos, outra aos quatorze. Obviamente não adiantou. Ninguém sabe disso. Não tentei de novo porque nunca soube de uma forma realmente efetiva. E assim a tristeza continuou por muitos anos. Piorou com várias doenças que fui adquirindo ao longo dos anos. Por um milagre que até hoje não entendo, eu me casei e tive filhos. Não sou mais sozinho. Mas minha tristeza, ao invés de diminuir, aumentou. Agora sou triste por não ter uma boa situação financeira e por não poder dar uma vida confortável para a família. Para piorar, estou muito próximo de perder meu emprego por causa da crise. Já é praticamente certo e não sei o que fazer quando isso acontecer. Como se não bastasse, meus filhos começam a exibir os mesmos sintomas que eu. À minha tristeza, somou-se culpa. Não sou responsável pela minha própria dor, mas sou totalmente responsável pela deles. Sabendo que estava amaldiçoado, não podia ter tentado ser normal e ter tido filhos. Agora condenei duas crianças inocentes a terem uma vida tão miserável quanto a minha. Deveria ter acabado com essa dor há muito tempo. Agora não tenho mais nenhuma saída. Não posso acabar com a minha dor, porque isso significaria abandonar minhas crianças, o que não posso fazer.

Um comentário:

  1. Pode parecer óbvio, mas a melhor solução que pude pensar foi conversar com a sua esposa sobre isso, e iniciar um tratamento. Talvez não seja uma decisão econômica, mas talvez seja mais estratégica.
    O problema todo esta na sua forma de ver as coisas.Seus filhos serão perfeitamente capazes de serem diferentes, dependendo da sua educação e a da sua esposa, e não da condição financeira de vocês. Quando perder o emprego, se esforce para conseguir outro. Mas tente lidar com a preocupação... Parece impossível não se preocupar em uma situação assim, mas a preocupação se por um lado é um princípio lógico de antecipação, no outro é uma ansiedade desgastante demais...
    Se é caro um tratamento, faça da sua rotina a sua terapia. Use metade do esforço que gasta se preocupando para fazer atividades diferentes com a sua família.

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