domingo, 7 de junho de 2020

Carros Laranjas

Provavelmente, caso eu poste esse texto é porque refleti muito antes de fazê-lo.
Eu odeio carros laranjas, detesto e sempre que os vejo na rua atribuo a um pressentimento de que algo de ruim pode acontecer. Ainda não quero falar sobre esses carros laranjas.
Eu choro todos os dias, às vezes nem sei o porquê, apenas quero extravasar uma dor gigante que sinto aqui dentro a qual jamais consegui expressar pela minha exacerbada estabilidade emocional. Não, quem me conhece geralmente me acha instável, costumo rir demais de tudo ou chorar demais por tudo, mas essa é minha estabilidade: eu choro, eu sorrio, eu grito, mas sempre com calma. Às vezes eu quero explodir coisas apenas para ver se sinto algo extremo, mas não, por isso me sinto extremamente vazia e sozinha, pois não consigo expressar toda a amplitude dos meus sentimentos para ninguém e pouco me sinto confortável para tal. Eu nasci para ser confidente apenas, jamais para ser ouvida e por mais que me dê ouvidos, eu os dispenso, não por fazer pouco deles, muito pelo contrário, talvez eu os valorize demais e, por essa razão não consigo falar e morro por dentro porque sei o quanto quero dizer, mas sei também o quanto isso não sai.
Às vezes eu quero sair correndo em uma rua vazia só para ver se eu sinto alguma coisa, às vezes eu quero que alguém me chacoalhe para que eu reaja a tudo, mas eu permaneço extremamente apática: emoções extremamente fortes porém programadas, animações contadas, dizeres ensaiados e por vezes, em meio a essa caixa de mentiras que sou eu, pergunto-me se sou realmente de verdade ou se me criei para agradar e apenas para me fechar. O problema disso tudo é que ninguém me trancou, ninguém disse "não fale" e também, ninguém julgou, o que faz com que eu me sinta muito pior por, apesar de todo o suporte e apoio eu não conseguir ser eu. As pessoas que eu conheço geralmente são aquelas com o potencial de partir, e isso é uma merda. Ela costumam dizer "isso não é sua culpa" ou "és maravilhosa não se culpe por eu querer ir", mas, primeiro - eu vou me culpar, claro que vou, segundo, eu vou me importar mais do que pareço demonstrar porque como disse minhas emoções são
programadas, eu jamais vou lhe dizer "estou chorando por isso", porque eu não quero lhe prender caso queira ir, mas ao mesmo tempo eu estou torcendo para que torças ficar nem que seja por alguém pequeno como eu. Elas costumam dizer que eu sou incrível, mas me pergunto "se sou tão incrível por que todas partem?". Já disseram que é porque isso não cabe a mim, mas sinto muito, cabe sim, eu que vou sofrer e me importo com meu sofrimento por mais que as vezes eu pareça ser totalmente alheia a ele. É muito fácil de despedir, dar um tchau programado com palavras bonitas e pedir que as pessoas não se culpem, mas elas vão se culpar. E é tanta culpa aqui dentro sabe? Uma culpa tão grande, culpa, culpa, culpa.
Morrer não vai tirar minha culpa. Morrer não vai fazer com que as pessoas deixem de partir. Mas, talvez, morrer faça eu sentir e expressar alguma coisa como as obras de arte da Tarsila Amaral... eu não quero ser vista, notada, nem ser incrível, nem que digas que sou incrível. Eu só quero que permaneçam.
As pessoas costumam dizer "mas tens tantas pessoas!", não, cada uma é singular e se torna parte do seu ser quando lhe cativa, logo, se ela for ela tira um pedaço seu e você deixa de ser a pessoa que era, eu poderia até dizer que esse pedaço vira culpa como "eu podia ter lutado mais" ou "eu não fui suficiente".
Infelizmente todo esse sentimento eu não consigo expressar, eu costumo dizer coisas que todos dizem não fazendo diferença nenhuma e acabo por jamais lutar. Talvez eu só não tenha força, talvez eu não queira me expor, talvez me falte coragem, mas eu prefiro, em vez de me depreciar como sempre faço, apenas dizer "pessoas sempre vão embora, eu nasci pra ser sozinha".
E sabe o problema? Isso não é culpa de ninguém.

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