Resumo de minha vida.

Quando eu tinha 7 anos meus pais se divorciaram. Até os 15 , eu ainda não tinha percebido como isso me influenciou tanto. Quando eles se separaram, eu tive que ficar com uma amiga da minha mãe, porque meu pai não queria me ver e minha mãe não tinha como ficar comigo. Ela trabalhava o tempo todo e só me via uma vez por mês. Minha irmã ficou com minha tia e eu não vi ela por quase um ano.
O pior foi ver meu pai passar todos os dias pela casa onde eu estava e não falar comigo. A primeira coisa que eu pensei foi "Meu pai me abandonou, então qualquer um pode fazer isso". Desde então, eu tenho medo de me relacionar com as pessoas. Até o quinto ano do colégio, eu tive apenas colegas, sempre mantendo distância e cuidando para que eu não me apegasse a ninguém.
Um ano depois da separação dos meus pais, eu passei a morar com minha mãe, meu padrasto e minha irmã. Eu era a mais velha, então tinha que me comportar e ser educada. Criei um senso de perfeccionismo enorme justamente por sempre querer agradar, manter tudo em ordem e ser gentil e educada. Mas com um tempo, isso afetou minha autoestima. Não fazer tudo perfeitamente fez eu acreditar que era inútil.
Quando mudei de escola no sexto ano, comecei a me aproximar de duas garotas. Elas se tornaram minhas melhores amigas. Mas no sétimo ano, aconteceu a primeira burrada. Eu menti pra elas. Foram mentiras bobas. Eu inventei amigos fora da escola e namorados. Eu vi que elas tinham uma vida fora do colégio e eu criei essas histórias pra não ficar de fora. Na verdade, eu não queria que elas me abandonassem porque eu era chata. Mas eu acabei contando a verdade pra elas e me desculpando.
Foi muito difícil reconquistar a confiança delas, mas depois de quatro anos eu consegui. Mas, então, elas começaram a fazer novas amizades e eu fiquei com medo de novo de perder elas. "Eu já perdi meu pai, não posso perder elas".
E eu menti de novo, dessa vez foi muito pior. Eu queria que elas se preocupassem comigo. Essa foi a única forma que achei para elas ficarem sempre atentas a mim. Não faz sentido, eu sei. Foi egoísmo. Mas eu não queria perder mais ninguém. E passou de uma gripe para uma doença mais séria e, depois de um ano, elas pensavam que eu estava indo a psiquiatras e tomando remédios para me tratar, mas tudo não passava de uma mentira.
Então ocorreram coisas que me fizeram ver elas realmente confiavam em mim e eu desabei. Eu vi a burrada que eu estava fazendo.
Resolvi contar a verdade. Sabia que ia perder elas, mas eu não podia continuar mentindo.
E aconteceu o que eu previa. Elas ficaram com raiva, tentaram conversar,mas eu fugi. Eu tinha medo da reação delas. Sei que devia uma explicação, mas doía tanto e estava com tanto medo das palavras que elas poderiam dizer.
E eu entrei em depressão. Elas eram minhas únicas amigas e eu, sem querer, dependia muito delas. Eu sempre fui extrovertida e simpática, então conheço várias pessoas, mas eu não tinha nenhuma relação mais profunda com nenhuma delas.
Eu me cortei, eu tomei remédios, tentei suicídio. Eu estava no fundo do poço. Doía ver elas todos os dias. Juntas, sem mim.
Um ano depois, numa comemoração do colégio, eu vi elas se abraçando. E nessa comemoração, a gente tinha planejado ficar juntas. Foi muito doloroso ver aquele abraço. Nesse mesmo dia, eu tive coragem pra pedir perdão a elas. Eu acreditava que não merecia esse perdão, por isso não tinha pedido antes.
Hoje tudo está melhor. Já se passaram dois anos e eu estou viva. Conheci novas pessoas. E já não dói tanto ver minhas ex-amigas andando pela sala de aula.
Mas as cicatrizes continuam aqui. As marcas não desapareceram e parecem sempre me lembrar de como fui fraca. Sinto que qualquer coisa me faz enfraquecer. Parece que quando você cai e experimenta a dor, você fica viciado nela. E eu sempre volto a me embreagar com essa droga lícita.
Nesse momento, meu pulso está sangrando mais do que nunca e eu me sinto tonta. Isso é como uma carta de despedida, eu acho. Bom, eu espero. Já não aguento mais cair. É tão difícil levantar. Sei que ninguém vai ver ou ligar para isso. Mas cá estou eu.
Penso que será menos um estorvo para minha mãe, menos uma boca para alimentar, menos uma pessoa inútil no mundo.
Meu erro foi querer cumprir com a expectativa de todos ao meu redor e não atender aos me desejos.
A filha inteligente, a amiga gentil, a afilhada educada, a aluna exemplar. Tudo isso fazia o meu perfeccionismo borbulhar e minha autoestima me afundar cada vez mais.
Minha namorada não gosta quando eu digo "tchau", porque parece que vou realmente embora. Então sempre digo "até amanhã". Mas dessa vez, sinto que não terá amanhã, então tchau para os que ficam.