quarta-feira, 24 de maio de 2017

Capítulo 5: Real ou não?

Se eu te perguntasse o que você fez hoje? Provavelmente você me diria algumas coisas sobre o seu dia, mas se eu perguntasse como sabe se isso é real, o que você me responderia?
O capítulo de hoje é sobre um buraco negro que eu abri na minha cabeça que se eu estender a mão eu consigo sentir lá no fundo da minha mente. E sobre a resposta dessa pergunta que eu lhe fiz (como saber se algo é real), a responderei com o decorrer do capítulo.
Seguindo a ordem cronológica, essa é a hora em que estou confuso, rebelde, com tanto a se dizer mas infelizmente minha capacidade de criar argumentos convincentes era ridícula.
Resolvi ligar o foda-se e impactar todos a minha volta da pior forma possível, deixei o cabelo crescer, comprei calças escuras, blusas de frio com estampas estranhas, anéis, pulseiras e tênis preto.
Era uma combinação perfeita de obscuridade e confusão, parte de mim estava satisfeito por conseguir demonstrar tudo que eu sentia na minha aparência, todos meus sentimentos estavam nítidos para qualquer um que olhasse pra mim.
Continuei saindo com meus amigos formigas, conheci pessoas, fiquei com um rapaz e as brigas em casa com minha avó foram crescendo exponencialmente.
Eu mentia aonde ia para não ser seguido, isso acabou criando uma ilusão na cabeça do pessoal que morava lá em casa, fazendo pensar que eu estaria usando drogas.
Passávamos dias sem nos falar em casa, e quando falava era brigas, copo sendo jogado no chão e palavras ofensivas mal pensadas. Até que meu avô bate na porta do meu quarto depois de um longo dia de discussões e pede para que eu dê uma volta no quarterão ou qualquer coisa do tipo.
Minha cabeça estava pulsando junto com meu coração e conseguia sentir a corrente de ar quente fluindo pra fora do meu nariz rapidamente, e quando eu achei que iria explodir ali mesmo, eu disse apenas : -Ok.
Vesti uma roupa, guardei outras peças de roupas em uma mochila e peguei a chave da porta.
"Esse é aquele momento em que não tem volta"' - Foi o que eu pensei em frente da porta...
"Vou ou não vou?" - Estava parado em frente a porta tentando repensar.
Eu não tinha ideia de onde ir, ou o que eu estava fazendo, toda a minha cabeça estava projetando minhas ações no momento em que elas aconteciam.
Antes que eu repensasse meus atos já estava destrancando rapidamente tudo. Eu sabia que agora que eu abri a primeira porta minha avó ja teria escutado, então era questão de segundos para que ela estivesse aqui.
Dito e feito, assim que eu abri o cadeado do portão, minha avó ja estava a poucos passos de mim, eu me lembro como se fosse hoje do braço dela se estendendo para agarrar minha mochila, com aquela expressão bruta no rosto.
Eu só virei o rosto e corri, corri como se algo me perseguisse naquela noite. Corri como se minha avó estivesse em cada esquina, corri como se estivesse tentando alcançar a aprovação de todos, corri como se minha vida dependesse daquilo.
Atravessei a cidade em 30 minutos. E ainda sim parecia pouco, Liguei para meu pai para que ele viesse me ajudar de alguma forma.
A expressão da minha avó estava no rosto de todas as pessoas que passavam alí, de tamanho medo que eu estava de ser encontrado e levado de volta pra casa.
Meus medos se transformaram em algo maior, as fantasias que eu criava no meu quarto vieram comigo na mochila e se tornaram real a cada passo.
Eu estava vendo vultos na escuridão do interior dos veiculos nas ruas, a falta de detalhe dos rostos sem olhos dava espaço para imaginar que talvez seja o vidro embaçado que causava esse efeito.
Travestis e homens de roupas largas passavam por mim me encarando, seguindo em frente mas olhando para trás sem dizer uma palavra.
Nunca tive religião, mas naquele momento tudo que importava era saber se eu estava sendo assombrado ou realmente tinha perdido a noção da realidade?
Bem, essa é a parte em que eu vou separar quem acompanha meus capítulos em dois: As que acreditam e as que não acreditam, mas pra mim não faz diferença, eu estou aqui para contar o que aconteceu e minha percepção sobre, não escrevo ficção, e outra... Porque desabafaria sobre algo que não aconteceu?
Um carro para do outro lado da esquina e descem 3 caras segurando armas de grande porte, mascarados e não notaram minha presença pois rapidamente me abaixei e escondi atras dos carros.
Eu estava ali, perdido, sozinho me questionando sobre tudo e todos.
Lágrimas escorriam pelo meu rosto e tudo que eu mais queria saber era até onde aquilo era real? Será que aqueles bandidos realmente estavam ali? Eu tinha que estar abaixado? Tinham mesmo algumas figuras fantasmagóricas me observando na escuridão? A uma hora atrás eu estava em casa escutando musica e agora estou aqui? eu realmente estou aqui?
Eram muitas dúvidas que eu tinha, nenhuma resposta, nenhum conforto, não tinha ninguém que sabia o que se passava na minha vida por completo, amigos da escola só me conhecia na escola, família só conhecia uma parte de mim, e se fosse pra eu morrer ali, tudo que fossem falar de mim  no meu funeral seria incompleto, seria superficial.
Mas minha morte ali era incerta, assim como talvez minha visão da realidade também poderia ser. É tão fácil pra você dizer que eu enlouqueci naquela noite e imaginei coisas, tão fácil quanto é pra mim dizer que você enlouqueceu hoje e não fez nada daquilo que eu te perguntei no início do capítulo. Mas o fato é que eu passei pelo que passei, seja real ou não.
E sobre a resposta da pergunta que eu fiz no início?
A resposta é simples: Não dá pra saber, é impossível saber se é realidade ou não quando se está dentro.

2 comentários:

  1. me deixou só mais paranoico , bem, boa sorte.


    Imagino o que são "amigos formigas"

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  2. Eu não passei o que você passou, por isso não tenho como dar um conselho decente, mas eu preciso tentar lhe dizer algo legal que faça com que tu tenhas vontade de escrever outros capítulos dessa história, sejam eles felizes ou não. A dor não passa, e se passa, deixa marcas e cicatrizes que nos fazem chorar umas centenas de vezes, mas existem coisas boas mesmo que elas pareçam pequenas e, se as ruins são grandes, por que as boas também não podem ser? Às vezes a única coisa que queremos é uma razão para viver e parece que a vida te da mais capítulos e histórias tristes fazendo com que tu pense se de fato ela quer que você pratique o ato de viver, mas eu digo que tu que pode decidir o que é real pra ti ou não, existirão coisas boas mesmo que "a luz no fim do túnel" esteja quase apagada. Tu não pode saber o que te espera, afinal esse não é o final da história, se permita escrever um epílogo bonito, busque coisas boas até no fundo do poço. Polyanna costumava fazer o "jogo do contente", explicitando que temos da vida aquilo que vemos, se vermos os lados positivos conseguiremos ser felizes e, isso, não significa não chorar, significa também se permitir sorrir, brincar de Polyanna talvez seja uma boa opção.
    Eu não sei como tu se sente, mas eu espero que tenha vontade de continuar apesar de toda essa bagunça, vou torcer para que tudo de certo, de verdade <3

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