domingo, 16 de outubro de 2016

Morrer é melhor?

Não me lembro ao certo quando foi a primeira vez que pensei em me matar. Quando era criança, fui criada por parentes que abusam psicologicamente de mim com frequência, me incentivavam a fazer coisas ruins e tiravam cada pedaço de bondade daquela criança de apenas 8 anos de idade. Foi assim por anos, corromperam cada pedaço da minha mente até não sobrar mais nada do que a marionete deles. Mas um dia, felizmente, tais parentes foram embora, mas por mais que eles não estivessem mais ali, tinham deixando sua marca profunda em mim, marca que dói até hoje.
Na adolescência eu me confundi, não sabia como abandonar tudo que colocaram na minha cabeça, mas sabia que precisava. Fiquei perdida entre duas personalidades, não conseguia criar uma só minha, ficava constantemente tentando imitar aos outros porque não havia sido ensinada e pensar por conta própria ou ter opinião. Nessa época fiz amigos péssimos, me influenciavam a bebida, fugir de casa, cigarros, sexo, e eu não tinha nem 14 anos direito. Eu nunca fui em nada disso, mas porque eu não queria e sabia que se fizesse não teria mais volta. O que me fazia manter um pedaço são era minha mãe, uma mulher excelente que esteve comigo sempre, mas nem ela conseguiu enxergar a maldade que tinha na família, e pra mim, por um longo tempo, o conceito de certo e errado era completamente destorcido. Mesmo com isso, consegui ser forte e não me permitir fazer as coisas que esses amigos pediam. Mas continuei escrava deles. Durante esse período na escola eu sofria um bullying terrível.
Esses amigos riam de mim e não me ajudavam. Na sala de aula eles gritavam pra mim "nariguda", "ladra de oxigênio", "feia", "esquisita"... Durante todas as séries do fundamental eu era conhecida assim, a esquisita. Uma vez abaixam minha calça na frente da sala toda e eu nunca me senti tão humilhada. Uma professora, de geografia, zoava da minha cara com os outros alunos, ria de mim sempre que podia e isso acabou comigo. Eu não tinha amigos, personalidade, opinião, apoio... Só conhecia o pior das pessoas, a dor, o sofrimento e a confusão. A única pessoa boa ao meu lado era minha mãe, mas ela precisava trabalhar muito, afinal, pagava tudo sozinha enquanto meu pai só ficava brincando por aí ou sei lá. Voltando a escola, eu não suportava mais e foi aí que comecei a ter mais imaginação para cometer suicídio. Comecei a pensar em enforcamento, veneno, pular de algum lugar alto, e mais ideias foram surgindo e esses pensamentos se tornaram meu refúgio, pensar que eu poderia dar um fim a tudo me aliviava. Comecei a falta na escola, dez, quinze dias por mês, eu nem sabia mais. Depois de um tempo simplesmente parei de ir, parei de falar com todo mundo e me isolei, descobrindo um mundo totalmente maravilhoso chamado internet. Todos os dias da minha vida passaram a ser online em diversas coisas. Foi quando fiz minha primeira amiga de verdade via online e então não saía mais do quarto para nada. A internet era o melhor lugar do mundo. Mas nem tudo é perfeito, então a escola ligou pra minha mãe dizendo que eu iria repetir o ano por falta. Eu fui obrigada a contar pra ela tudo que acontecia lá dentro, e assim, ela saiu em minha defesa e a escola foi obrigada a me deixar fazer uma prova pra passar de ano, e assim foi, fiz a prova e passei. Na oitava série tudo melhorou, era uma sala completamente diferente e lá dentro conheci minha melhor amiga, que é minha melhor amiga até hoje. A solidão foi embora, fui fazendo novos amigos na rua em que moro,
comecei a brincar mais e então ter uma infância de verdade, um pouco velha, mas era perfeita. Conheci meu melhor amigo, e junto com a minha amiga, viramos o trio de melhores amigos. Eu fui tão abençoada por ter eles, se teve um dia que acreditei de verdade em deus foi quando conheci esses dois. Eu era apenas uma criança aprendendo tudo, só queria amigos e brincar, e por longos anos isso foi o suficiente pra mim, eu estava feliz pela primeira vez na vida. Foram tempos ótimos, apesar de eu ter repetido o primeiro ano do colégio por falta... Mas nesse caso foi por medo, a escola vivia cheia de drogados e gente que me assustava demais e minha mãe concordou em me tirar dali, mas não tinha como se transferir no meio do ano, então o jeito foi esperar terminar o ano. Mesmo com isso, eu estava feliz, tinha amigos e a gente brincava todo dia, passeava, assistia filmes e ria muito. Mas nunca deixei de passar grande tempo na internet, ela sempre foi meu verdadeiro lar. Meus amigos não sabiam o que eu tinha passado e naquela época eu esqueci tudo, decidi enterrar e começar de novo. Minha mãe me colocou num colégio particular no ano seguinte, e foi um ensino médio bom, eu fiz amigos na escola, 3 na verdade, só falava com eles, mas isso não me incomodava. Eu gostava da nossa panelinha excluída, mas unida até o final. Na época do ensino médio tinha minha personalidade mais forte do que nunca, ainda era infeliz comigo mesma, me achava feia, inútil, mas eu passei a ser agressiva e atacava quem me atacava sem dó. Por isso ganhei um bom respeito no ensino médio e nunca mais sofri bullying. Mas não tirava boas notas, eu odiava estudar porque quanto mais estudava parecia que ficava mais burra. Uma criança que nunca tinha frequentado escola boa de repente cair numa particular era difícil e eu nunca consegui acompanhar o ritmo deles, mas me esforcei ao máximo e consegui completar os estudos. Mas ainda sim, nunca consegui ser boa em nada, apenas passei.
Depois do ensino médio tudo piorou. Nunca consegui passar em nenhuma prova, não tinha dinheiro pra faculdade, não conseguia emprego... Eu tinha entrado na vida adulta, mas tudo que sabia fazer era ser criança. Na época da escola era fácil ignorar tudo, era só fazer as tarefas e depois pular pra rua e fingir que era um pirata. Mas eu não podia, meus amigos cresceram também, a rua ficou silenciosa, e tudo foi voltando a ser vazio de novo. Meus amigos foram trabalhar, mas eu não consegui ir com eles. Foi quando a vida perdeu todo o sentido, toda felicidade que eu tinha conhecido era parte do passado e ela não ia mais voltar. Comecei a ficar o dia todo na internet de novo, fiz mais amigos online, amigos de verdade que mantenho até hoje, mas esses amigos são pessoas mais novas e não entendiam as responsabilidades que eu deveria ter, e eu iludida, comecei a achar que tinha a idade deles pra escapar da realidade. Por um tempo eu saía, sempre chamava os amigos pra sair, mas is
so só me fazia esquecer do eu tinha que fazer de verdade, de que eu tinha que ter a minha própria vida.
Após dois anos em casa sem fazer nada, entrei numa faculdade. Minha mãe tinha começado a ganhar bem, então ela pagava. Sinceramente, eu nunca tive um sonho de verdade. Quando mais nova queria ser diretora de cinema, arqueóloga, detetive do FBI, cantora... Sonhos infantis que eu achava que podia ser real, mas não podem e nunca vão ser. Ter esse peso de realidade me deixou ainda menos positiva, então decidi estudar Letras porque gostava de ler e pensei que pudesse me tornar escritora. Durante o primeiro ano de faculdade foi tudo bem, fiz amigos lá e por mais que eu não gostasse de coração do que estudava, ainda me sentia bem porque agora tinha uma vida minha. No segundo ano de faculdade as coisas foram mudando, fui começando a odiar cada matéria, perdi minha vontade de ser escritora, não tinha mais imaginação, os amigos se afastaram e eu percebi o quanto eu era absurdamente diferente deles e fiquei apenas me enganando ano passado. Eles nunca iriam me aceitar e nunca te
riam paciência, até porque se mandaram antes que eu contasse. E novamente, comecei a me refugiar na internet, onde eu tinha amigos que me entendiam. No terceiro ano da faculdade eu percebi que o único destino que me aguardava no final daquela tortura era ser professora, e não existia nada que eu odiasse mais do que escolas. Nunca iria voltar para lá, e minha mãe tinha perdido o emprego, então eu saí da faculdade.
Faz alguns meses desde que saí da faculdade e tudo está péssimo. Suicídio nunca foi algo ruim pra mim, então eu penso nisso sem culpa e não acho que faria falta no mundo. Estou sem nenhuma perspectiva, e toda vez que minha vida parecia melhorar algo dava errado. Sempre fui perdida e confusa, não sabendo o que estava fazendo e vivendo de ilusão de um dia tudo daria certo. Não vai. Hoje eu vejo que não melhora, eu não consigo pensar em nada de bom, não consigo ter um sonho ou vontade de viver. Ultimamente ando distante dos meus amigos porque não quero sobrecarregá-los com o meu fardo, tenho que carregar isso sozinha como sempre fiz. Mas eu não consigo mais nada, nem mesmo vontade de sair ou conversar... Meu refúgio na internet continua, mas nem mesmo aqui eu ando conversando com alguém. Todo o tempo eu me isolo e sempre quando penso em conversar, ou pegar no celular, um pânico horrível toma conta de mim, uma dor no peito e acabo passando dias sem conseguir falar com
ninguém. As poucas conversas que tenho duram minutos, eu não consigo mais falar muito tempo com alguém e tenho uma agonia enorme em ficar puxando assunto e decido me isolar por isso. Quando me chamam pra sair eu chego a aceitar, mas no dia eu chego a preferir morrer do que ir e acabo ficando em casa. Pra mim não existe mais mundo bom ou motivo pra permanecer nele, sou um peso pra minha mãe e cansei de ver ela se martirizando por mim. Eu me odeio profundamente e não houve um momento sequer que consegui me amar ou sentir algo de bom em mim mesma, me sinto um lixo e um peso no mundo, uma inútil na multidão. Recentemente me apaixonei por uma pessoa, mas ela não podia gostar de mim, e sempre foi assim... Nem eu mesma gosto de mim, como ela poderia gostar? Nem mesmo amor eu nunca vou conhecer na vida porque eu sou inútil demais pra conseguir até um namoro virtual, quem dirá de verdade. Tem dias que eu não saio da cama, chega ter dias que eu nem ao menos passo pente no cabelo
ou troco de roupa. Não tem nada pra mim aqui, eu amo meus amigos, eu amo minha mãe, mas não posso ficar vivendo só por eles. Vivendo? Eu diria sobrevivendo, eu nem consigo me olhar no espelho sem querer quebrar a minha cara. Não tenho vontade de me arrumar, sempre vou ser a feia e esquisita então nem ligo mais. As pessoas que veem um bem nesse mundo tem sorte, eu não consigo ver nada de bom esperando por mim e a cada vez que alguém fala que tudo vai melhorar ou que um dia vou encontrar alguém que me ame, eu tenho vontade de morrer, porque isso pra mim é mentira. Ninguém na minha família é feliz, ninguém encontrou amor e todos só querem envelhecer rápido pra poder morrer logo. Nada disso de felicidade ou sonhos existem pra mim, não há nada me esperando além de decepção e ser forçada a trabalhar em qualquer coisa pra ganhar qualquer coisa e pagar umas contas até morrer. Nunca procurei ajuda de psicólogo nem nada, as vezes eu penso nisso, mas vai adiantar? Até o ar que eu respiro tá sufocante, meu ombro sente um peso enorme e é como se até respirar fosse difícil pra mim. Eu me odeio tanto e não acho que vou conseguir desfazer isso, tá tudo errado. Eu só queria poder me matar e doar meus órgãos, pelo menos eu salvaria algumas vidas que realmente querem viver.

3 comentários:

  1. Morrer e a melhor coisa diante desse mundo cruel onde as pessoas n dão valor a ninguém eu mesmo vou me matar pq n aguento mais essa vida de miséria.

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  2. Acredito que tais pessoas cruéis querem exatamente isso, ver os outros sofrendo e rir da desgraça daqueles que sofrem.Transtornos de personalidade, não podemos achar que sempre alguém que faz esse tipo de coisa tem alguma patologia. Podem ter a visão errada do "certo e errado", serem psicóticos ou algo assim.
    Não acredito que morrer seja a melhor opção... também não vou ser "clichê" e falar que tudo vai dar certo e que vai encontrar alguém que te ame e blá blá blá. Não que isso não vá acontecer,mas acredito que falar isso não ajuda.
    Falando sobre consultas com psicólogos acho necessário, até para você mesma(o) ter uma reflexão sobre o que você realmente quer, se "acredita" nessa superação do seu problema.
    O mundo é realmente cruel, mas as pessoas ruins sempre vão existir e não adianta sonhar com um conto de fadas. Sou completamente leiga em relação à passar por este tipo de problema, porém, acredito em uma recuperação. Adoraria conversar com essas pessoas, me especializar e saber mais sobre psicoterapias, ajudar pessoas que sofrem "na mão" de seres tão cruéis...
    Você é forte, não porque não acontece nada com você, és forte pois tu quanto está choras o que tem para chorar.E não pense que chorar é para fracos, e sim para aquelas pessoas que mesmo desabilitadas usam a máscara e estão sorrindo todos os dias e quando choram estão desabafando ...

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  3. Já pensei nisso é cheguei a conclusão que pessoas que sentem isso, são pessoas que aguentaram mais do que o psicológico podia aguentar ou que enxergam as coisas com muita seriedade e a vida fica muito pesada. A depressão que pra cada um é de um jeito, pra mim é um mergulho na realidade, uma realidade que deve ser vivida sem pensar muito nela. Também estive uns 3 meses em um Spa e lá eu não tinha problemas, me cuidava e automaticamente vi e senti pessoas cuidando de mim, prazer que eu não sentia há muito tempo. Mas quando escuto uma desgraça, fico acabada, parece que tudo que não entendo tenho dificuldade de aceitar. Penso muito, talvez o mal dos filósofos e não devemos, a vida é uma ilusão e assim deve ser vivida e outros que devido a ela pensam em suicídio, também pra que dar cabo na nossa vida se não sabemos se nossa hora de partir pode ser daqui a meia hora, um minuto ou esse ano e por vontade de Deus? Hoje entendo algumas pessoas que bebem, fumam, cheiram e aprendi a não julgar. Mas diferente de algumas depressões não consigo ficar na cama, isso também é ruim porque o sono deveria ser um prazer. Eu sinto a dor dos outros e choro com elas e isso piorou muito a minha qualidade de vida. Não dou muita importância para o material e isso também não é bom, porque vejo pessoas sentirem felicidade até quando ganham uma caneca. Talvez o segredo seja não pensar, isso sim é que é uma luta, porque só sofre quem muito pensa. Fora isso existem pessoas que conseguem supera-las com crenças e fé. Os traumas de infância são os primeiros que devem ser tratados com neurolinguística e não esquecendo a parte física, no caso a parte quimica que deve ser levada em conta e tratada. Penso assim, embora saiba que milhares de pessoas pensam de outra forma e também estão certas. Cada qual com seu tipo de depressão e sintomas.

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