sábado, 1 de outubro de 2016

Ondas de tristeza

Sou uma mãe de 32 anos que sofre com a depressão desde a adolescência, são como ondas que de tempos em tempos volta pra me assombrar, eu nunca percebo quando está se aproximando e quando me dou por mim já estou afundada em melancolia e tristeza. Minha primeira crise depressiva e tinha 16 anos, fui abusada por alguém em que confiei, eu sentia muita vergonha de mim mesma, pq eu realmente acreditava que a culpa tinha sido minha, não conseguia frequentar as aulas, chorava muito, mas não conseguia contar pra ninguém e por isso minhas amigas se afastaram. Um professor percebeu algo errado e me chamava pra conversar todos os dias e por fim ele só me observava chorar e mais nada, ele nunca soube o que aconteceu comigo. Com muito custo segui em frente, comecei a trabalhar, iniciei em uma faculdade e comecei a namorar, estava tudo indo muito bem, até que perdi tudo de uma só vez. Com 18 anos eu tive minha segunda crise. Perdi o emprego, não pude continuar com os estudos pois não havia como pagar os custos e meus pais disseram que não poderiam me ajudar e meu namorado me deixou dizendo que eu era muito quieta, ele mal sabia as preocupações que rondavam minha cabeça naquele instante. Chorei muito, por dias, semanas, meses. Não tinha amigos, não tinha ninguém, ninguém na minha família percebeu algo errado, acharam apenas que eu estava em uma fase rebelde. Eu perdi quase 15 quilos, sendo 10 deles somente em 1 mês, eu fiquei com 50kg, não parece grande coisa, mas com minha estrutura era muito magra, os ossos no meu quadril estavam aparecendo. Foi a primeira vez que fui a um médico, minha tinha me levou pq eu ouvia vozes dizendo pra eu acabar com aquilo, eu pensava seriamente em acabar com minha vida, esse médico não era psiquiatra, era neurologista e disse que eu sofria de esquizofrenia, ele me passou uma porção de remédios que deixavam ainda pior, aumentavam minha ansiedade e me fazia sentir enjoada o dia todo, eu estava realmente ficando pirada e os pensamentos suicidas não me deixavam. Eu parei por conta com os medicamentos (não que eu recomende isso, de forma alguma) Mas passei a tentar ocupar minha cabeça de outras formas, fiz aulas de pintura e entrei para um coral, isso me ajudou e me permitiu conhecer outras pessoas. Eu encontrei outra pessoa e comecei a namorar novamente, logo eu tinha um emprego, não era o emprego dos sonhos, mas eu estava trabalhando. Com 23 anos descubro que estou grávida, entre muitas incertezas sobre o futuro, vem a terceira crise, uma forte ansiedade que abalou meu sistema nervoso, meus músculos se contorciam e minha língua enrolava de forma a não conseguir respirar e por mais de uma vez tive que ir ao hospital por conta de crises nervosas e de ansiedade, o que resultou a uma consulta com um psiquiatra que descartou qualquer possibilidade de eu sofrer de esquizofrenia, e que tentava me tratar da melhor maneira possível por conta da gravidez. Minha obstetra não permitiu que eu continuasse com a medicação por conta dos riscos que poderiam afetar o bebe, então foi muito difícil pra eu controlar as crises, aconteciam a toda hora em qualquer lugar. Quando meu filho nasceu tudo mudou as crises pararam, e eu tive uma boa melhora. Estava indo bem, quando meu filho completa 5 anos descubro que meu namorado( os pais deles não permitiram casamento até nossa casa estar pronta), bem, ele me traia enquanto eu trabalha, e me passou a perna, tudo o que juntamos para compra de terreno e construção estavam no nome do pai dele e eu acabei sem nada, na casa dos meus pais, com meu pai brigando comigo praticamente todos o dias. Foi a pior fase, eu acho. Era uma mistura de raiva, frustração e vergonha por ter que que morar com meus pais como mãe solteira. Acho que depois dessa vez eu nunca me recuperei de fato, eu voltei ao médico e voltava com os medicamentos, logo os medicamentos paravam de fazer efeito e a dose era aumentada e então novamente deixavam de fazer efeito e eram trocados por outros e assim foi até eu perder o emprego e o convenio e não pude mais voltar ao médico. E tive outra crise com 31 anos sofrendo de agorafobia, ansiedade e pânico. Eu não saia mais de casa, vivia na cama mas não conseguia dormir, tinha sempre a impressão de que alguém entraria na casa enquanto que estivesse dormindo e me atacaria da pior forma possível, eu sentia muito medo a noite e muito triste durante o dia, não sentia fome, não queria falar com ninguém, eu só chorava e queria morrer e acabar logo com aquilo. Mais uma vez voltei ao médico, um outro, da rede pública, que me passou novos medicamentos, eu já não aguentava mais tomar remédios, mas ele disse que me fariam sentir melhor, mas não faziam, só me deixavam dopada, incapaz de fazer qualquer coisa, mas a tristeza e a ansiedade não passavam, eu dormia e tinha pesadelos horríveis, eu não me sentia presente, parecia que eu habitava um corpo que não era meu, sentia dificuldades em respirar, e não conseguia nem sentir a água tocando minha pele, eu estava completamente adormecida. Notei que os médicos não sabem muita coisa sobre depressão, eles acreditam apenas em seus pacientes, eu não aguentava mais tomar os medicamentos e menti que havia melhorado e ele me liberou. Não se passou muito tempo e essa onde está voltando, pela primeira vez estou percebendo que há algo errado, a tristeza, os choros, a vontade exagerada e continuar na cama, eu gostaria muito de dormir profundamente e não ter que acordar mais, dessa vez, além disso, estou tendo dores terríveis pelo corpo, principalmente a cabeça, dores constantes e intermitentes que duram dias até finalmente diminuírem, mas que não demora muito voltam, e não há remédio que faça melhorar. Tenho medo de voltar ao médico e ter que tomar um monte de medicamentos novamente. As pessoas olham pra mim e dizem que tenho um olhar triste, mesmo quando tento sorrir meus olhos não conseguem esconder o que realmente estou sentindo, é uma tristeza que vem do fundo e que sempre volta como ondas fortes e me cobrem com elas de forma de não consigo sair. Acho que só não acabei com minha vida ainda pq tenho medo que não seja o fim. Mas chega uma hora que o desespero vence o medo e talvez a próxima onda seja mais forte e eu não volte mais. Cada vez mais eu perco a vontade de lutar contra isso, cada vez mais eu me sinto fraca. Eu já não tento conversar com as pessoas, pq elas não entendem, acham que é algo que se pode controlar, da ultima vez que tentei falar com minha irmã, ela me chamou de egoísta e mandou eu ir me ferrar, disse que eu deveria sentir vergonha por pensar assim pq há milhares de pessoas que passam necessidades, países em guerra e crianças órfãs por conta disso e eu choramingando. Eu me senti um lixo, ainda pior do que estava, eu rezo pra que essas pessoas encontrem seu caminho assim como rezo pra eu encontre o meu, mas não é fácil, como disse, não é algo que eu consiga controlar. Todos os dias eu luto comigo mesma pra levantar da cama e fazer meus afazeres, eu digo bom dia ao meu filho e tento mostrar pra ele como o mundo é bonito, como o ar da manhã é gostoso e agradecer por cada gota de chuva ao invés de reclamar, eu não consigo mais mudar meu mundo, mas ele ainda está descobrindo o dele e me sinto abrigada a isso. Mas as vezes é tão difícil, tão difícil mesmo, que eu me rendo e acabo não saindo da cama, eu digo que estou doente e fico lá no escuro esperando o tempo passar. Porque me sinto assim?Estou sendo egoísta em me sentir triste quando há pessoas com outros problemas? Eu só queria ter alguma certeza pra quando a próxima onda chegar.

3 comentários:

  1. ola pessoa, eu me chamo Igor e tenho quinze anos. Sua historia é dolorosa, eu fui medicado com depressão a uns dois anos, talvez não sinta como você mas também me sinto solitário e esquecido. Em todas as noites ou dias como esse em que me sinto deprimido, tento não dar muita importância para o que todos em volta dizem, tento lembrar que eles me amam e apenas ficam sem saber o que fazer quando se deparam comigo nessa tal depressão. Eu sei que palavras machucam, acho que depois do termino do namoro com a unica pessoa que eu amei em toda essa vida te aqui as coisas só pioraram desde então. Mas o fato é que sua irmã só estava de cabeça quente e falou o que devia ter falado, todas as dores são importantes, não se sinta sozinho.

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  2. Olá, entendo muito bem sua dor
    quando se sentir sozinha , entre no chat , você não está sozinha.
    Forças ! :)

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  3. Eu entendo totalmente, não fui nunca diagnosticada com nada, mas me sinto como se eu não existisse, fosse um simples nada, e também tenho essa sensação de estar sendo egoísta demais, mas uma vez um amigo me disse que tudo realmente estava errado, e que eu nunca devo achar isso, pois estamos aqui para viver, e viver intensamente, não é egoísmo, é cuidar de nós mesmos, e a partir do momento que você se cuida, que dá valor a si, tudo a sua volta começará a ganhar cores e você não irá ter tempo de se preocupar com esses malditos monstros da mente.

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