quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Você me tortura

De repente escuto um barulho distante e repentino de metais e ferro, funcionando em uma constância que a me deixa identificar com facilidade que se trata de um portão. Ah, um portão, um simples portão, como parece bobo o barulho do portão se abrindo, concordaria com você mas seria hipocrisia da minha parte, senão porque motivo eu teria levantado da cama para espiar o portão abrir?
Impossível ter uma visão ampla de quem estava entrando pelo portão pelos buraquinhos miúdos de uma janela, sendo contínuamente distraído pelos feixes de luz que me servia como obstáculos. Eu já sabia quem estava a entrar, mas mesmo assim eu olhava fixamente até ver a cor metálica do carro que eu aguardava.
Assim que confirmava quem estava a adentrar, nenhuma emoção era esbouçada. Francamente eu sabia a hora em que ele chegava, não havia ansiedade em jogo, apenas uma fraca neblina de tristeza, sensação de medo e desconhecimento do que poderia estar por vir. Cada segundo que se passava naquele quarto evitando o contato era um segundo a mais de dúvida e incerteza da reação e humor de quem eu de certa forma "temia".
Eu caminhei descalço para fora do quarto estranhando a diferença de luminosidade da sala, caminhando devagar para não ser notado, pronto para fingir que estava fazendo outra coisa além de estar deitado na cama a tarde inteira, a porta do quarto dele estava aberto e pude notar uma musica mal cantada e o barulho de água caindo no chão.
Senti um alívio. Nínguem canta quando está de mal humor, meu alívio não consiste nele estar de "bom humor", mas consiste em saber que a partir de agora não preciso viver momentos psicologicamente torturantes, mas apenas sobreviver até o abrir do portão de amanhã.

Um comentário:

  1. é emocionalmente triste como o soar de abrir de um portão pode significar muito para uma pessoa.

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